Consumo ConscienteCOVID-19

Por um consumo mais consciente

Se uma coisa positiva podemos tirar dessa quarentena foi uma maior atenção do consumidor sobre seus hábitos de consumo. Aprendimos rapidamente a priorizar os bens imprescindíveis dos apenas necessários, e a discernir o que nos é totalmente supérfluo, posicionando itens que não precisamos bem no fundo da nossa lista de desejos. Comprar, de um ato impulsivo, passou a ser uma ação planejada. Com apenas serviços básicos operando, logo percebemos, nós da classe média que valorizamos muito a nossa própria capacidade de consumo, que itens de perfumaria, materiais de construção e até mesmo roupas não eram objetos de primeira necessidade, e que podíamos viver muito bem sem comprá-los. Mas, ao mesmo tempo, percebemos que existe um setor inteiro que não teria chances de sobreviver sem o nosso consumo responsável, consciente e solidário: os pequenos comércios e as pequenas indústrias locais.

 

Descobrir artigos produzidos e comercializados localmente virou para muitos uma missão, um propósito: fortalecer a economia local. Nas pequenas cidades, com a minha, Paraty, se movimentaram os grupos de WhatsApp, o comércio de pães artesanais, de máscaras feitas por costureiras e artistas locais, de frutas e verduras compradas diretamente dos produtores, de congelados e deliciosos patês feitos com carinho para fazer das tardes algo mais saboroso. E nós, essa classe média sempre tão “ocupada”, sempre tão “estressada”, fomos descobrindo os pequenos prazeres (e também os pequenos perrengues) de tirar uma pizza feitas por nós do forno ou de sentir sabores novos no café artesanal. Mas descobrimos, principalmente, o prazer de estender a nossa mão pra quem mais precisa. E digo a classe média, sim, porque as classes populares já descobriram esse prazer há tempos, porque se vive em dificuldade e em crise e não é de hoje. Todo carioca suburbano, como eu, sabe da importância econômica que se faz na vida de outra pessoa ao comprar dela uma quentinha, uma salada de fruta no pote, um paninho de prato com ‘bico’ de crochê ou de chamar a vizinha para fazer a suas unhas, porque as classes populares sobrevivem graças a essa rede solidária.

Percebemos que existe um setor inteiro que não teria chances de sobreviver sem o nosso consumo responsável, consciente e solidário: os pequenos comércios e as pequenas indústrias locais.

Nerita OeirasMontañita Cafés Especiais

A grande mudança, para mim, virá do exemplo de pequenos comerciantes, como nós, que se reconhecem como trabalhadores, que conseguem ver que não são grandes empresários que que seus negócios, ainda que gerem renda e emprego, são parte de uma rede que precisa que todos os demais pilares estejam também economicamente saudáveis para sobreviver. Que são capazes de redesenhar seus hábitos, seus argumentos de venda e de mostrar tanto suas fortalezas como suas fragilidades, porque no reconhecimento das próprias limitações emerge a força do coletivo, que é a única massa realmente capaz de mudar um paradigma tão grande como os hábitos de consumo e a necessidade de status, no caminho de formar consumidores mais conscientes e ser realmente cidadãos socialmente mais responsáveis para com as nossas comunidades.

Continue apoiando a pequena indústria e o pequeno comércio brasileiro (dados do Sebrae):

  • O setor é responsável por 52% dos empregos formais do país, ainda que corresponda  ‘apenas’ 27% do PIB nacional.
  • É um setor mais responsável enquanto a contratação de jovens no primeiro emprego e pessoas com idade avançada.
  • É um setor que gera opções de emprego para aqueles que não concluíram o ensino médio e são considerados de ‘baixa’ escolaridade, .
  • Em 51% dos casos, as empresas de pequeno porte são encabeçadas por mulheres.
  • Muitas vezes se estabelece uma relação pessoal de confiança com os proprietários, o que fortalece os laços comunitários.
  • São empresas que enfrentam muitos entraves em relação ao acesso ao crédito, sujeitas a altas taxas e juros cobrados pelas instituições financeiras.
  • Comprar de pequenos aumenta a circulação de dinheiro.
Nerita Oeiras

Nerita Oeiras

Nerita Oeiras é artista plástica, pesquisadora independente em Estudos Culturais, empreendedora e proprietária de Montañita Cafés Especiais. No Instagram: @nerita.oak

Leave a Reply